24 maio 2007

Dias cinzentos...



O sol já há muito que não brilha aqui no largo onde vive este vosso amigo.

A chuva e as nuvens têm tingido de cinzento o céu, mas não é por isso que o sol deixou de brilhar. O sol já não aquece o largo porque o AR-tur desapareceu.

A última vez que esteve aqui na praça o AR-tur teve uma visita.
Apareceu uma jovem.
Não era a mais bela mulher à face da terra, mas o seu rosto miudo emoldurado por uma cascata de brilhantes caracóis chamaram a minha atenção.

Vi quando a jovem apareceu, perto da hora em que os miudos começam a sair para o recreio da escola. Parou junto dos táxis e ali ficou durante alguns momentos a observar o AR-tur.
Durante esse período, ele permaneceu imóvel. Nem um piscar de olhos ou um tremor. Nada. O AR-tur era um verdadeiro Homem Estátua.

Enquanto isso, o olhar da jovem parecia triste.
Pareceu-me que hesitava em se aproximar do AR-tur. Mas ao fim de alguns minutos dirigiu-se para a minha árvore e ficou frente-a-frente com o meu amigo.

Não sei dizer se o AR-tur já tinha reparado nela anteriormente, mas posso afirmar que só naquele momento em que o seus olhos se cruzaram é que ele se moveu.

O AR-tur estava visivelmente nervoso.
Desceu do banco onde se encontrava e abraçou ternamente a jovem.
Depois disso, afastaram-se um pouco e vi que trocavam algumas palavras. Do cimo da minha árvore não consegui entender o que diziam, mas pareciam-me ambos bastante emocionados.

Nunca antes o AR-tur tinha recebido visitas ali no largo. Ninguém lhe conhecia outros amigos.
Por isso era tão intrigante o aparecimento repentino daquela jovem mulher.

No entanto, embora curioso, não consegui saber quem era.
Quando me preparava para descer da árvore e aproximar-me de ambos, o AR-tur pegou nas sua mala e afastou-se com a jovem. Vi quando ambos se dirigiram para o outro extremo do largo e começaram a subir a rua onde o AR-tur morava.

Foi a ultima vez que o vi por aqui.
Desde então já lá vão duas semanas, e o meu amigo nunca mais apareceu. Os dias aqui no largo ficaram mais tristes.

Passados alguns dias fiquei a saber que aquela jovem era irmã do AR-tur. Ouvi quando a D. Joana da mercearia falava com uma das suas freguesas. Ela disse que a irmã do AR-tur o tinha vindo buscar porque o pai de ambos se encontrava muito doente. Segundo ela, o AR-tur tinha partido de vez.

O meu companheiro tinha partido?
Naquela hora pensei que a D. Joana estava enganada, mas até hoje não voltei a saber do AR-tur.

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Este espaço surgiu, inicialmente, para vos contar as histórias do AR-tur.
Mas não só...

O desaparecimento do AR-tur não vai ditar o desaparecimento deste espaço.

Por aqui irei continuar.

Neste espaço continuarei a dar conhecimento dos meus pensamentos, bem como de tudo aquilo que observo do cimo da minha árvore.
Entretanto, procurarei saber por onde anda o AR-tur.
Alguém saberá dar-me noticias do meu amigo?

Saudações felinas a todos.
Miaaauuuuuuuu!!!

06 maio 2007

Domingo de Sol...

"Gato escaldado de água fria tem medo"


Este provérbio não se aplica a este bichano... Miauuuuuuu!


Por aqui o Sol é rei e a Praia rainha. E aqui o tareco passou a manhã a escaldar ao sol e a refrescar-se no mar :D


E que delicia que estava!

A areia limpa e morna, o mar limpido e calmo... enfim, um autêntico paraíso!


Estão com inveja?


Hehehe! Eu sei que estou a ser um gato mauzão!!!


São os meus genes femininos que estão a vir ao de cima ;-)


Aqui fica uma imagem para ilustrar este Domingo de praia...

04 maio 2007

Ao acordar...




Olhou pela janela.
Lá fora estava uma manhã de Outono.
Uma manhã como tantas outras - o chão estava ainda molhado da humidade que caíra durante a noite, mas o sol começava a aparecer por entre as nuvens.

Estava na hora. Era o começo de mais um dia.
Sorriu.
A praça esperava por ele. Ele era o Homem Estátua que, diariamente, animava as manhãs de todos quantos viviam, passavam e trabalhavam naquela praça.

Começou por vestir aquela que era a sua farda de todos os dias: camisa branca, calças e casaca pretas, um grande laço vermelho e um velho chapéu alto. Depois, com todo o cuidado, iniciou o ritual que envolvia a pintura da cara. Primeiro que tudo os olhos. Era a parte mais delicada e aquela que lhe merecia mais cuidados. Depois, toda a face se preenchia com o branco da pintura. Para o fim ficava a boca, pintada de negro, o mesmo negro que cobria as sobrancelhas e que desenhava a grande lágrima que lhe cobria a face esquerda.

Já estava pronto.
Antes da pintura comera algo, que lhe acalmara o apetite matinal, e puxara o lustro aos sapatos de verniz que completavam a sua indumentária. Pegou no banco e na pequena mala de viagem coberta de autocolantes. Estes eram os elementos que compunham o seu cenário e que o acompanhavam sempre no palco.

Bateu a porta. Desceu as escadas de madeira.
Morava num prédio antigo onde as escadas rangiam e cheiravam intensamente a cera e a madeira antiga. Havia um pequeno elevador, daqueles que se vêem nos prédios tão antigos como aquele. Mas o deste prédio não funcionava há alguns anos. As sucessivas avarias, a inexistência de peças e a incapacidade dos moradores para pagar a substituição do mesmo, levaram a que o velho elevador metálico permanecesse desde então parado e trancado no rés-do-chão daquele prédio onde morava o Homem Estátua.

Chegado à rua, apressou o passo. A manhã estava fria, mas o Homem Estátua nem sentia. Enquanto caminhava ia pensando no “seu” público: os garotos que passavam a caminho da escola e que se entretinham a fazer-lhe caretas, tentando dessa forma sacar-lhe um movimento ou um piscar de olhos; as donas de casa que passavam a caminho da mercearia e que o olhavam com curiosidade, tentando talvez saber o que leva alguém a ter por ocupação ser homem estátua numa praça como aquela; e os homens e mulheres, apressados a caminho dos transportes que os levavam aos empregos.


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Esta noite sonhei com o AR-tur.Este foi o meu sonho...



Desde que ele começou a aparecer no Largo que tento imaginar como será a vida dele longe deste palco onde a minha oliveira ocupa o lugar central e de onde assisto todos os dias à sua actuação.


Agora vou ver se ele já chegou.

O sol brilha lá fora e a agitação já anima o Largo.

Vou espreguiçar-me para perto do AR-tur.
Está na hora de comer algo e, dentro daquela mala coberta de autocolantes, há sempre uma gulodice para mim.

Miauuuuuuu!

29 abril 2007

Saudações felinas...


Olá!
O meu nome é Cat... Cat in the Hat!

E estou aqui para vos contar as Histórias do AR-tur.

E perguntam vocês: "Quem é o AR-tur?"

E respondo eu: "O AR-tur é um Artista de Rua. Mas não é um artista qualquer, ele é um Homem Estátua.
Todos os dias o vejo por baixo da minha janela.
Eu vivo na oliveira que fica no centro do Largo da Igreja e, todos os dias, o AR-tur chega pela manhã, monta o seu palco, e depois de alguns exercícios fisicos, imobiliza-se e fica ali.
O AR-tur vê tudo o que se passa no Largo da Igreja, tudo se move à sua volta, as horas correm, cheias de vida mas ele permanece imóvel.

Mas nem sempre foi assim... o AR-tur não foi sempre Homem Estátua.
Ele já correu ao ritmo das horas que passam.
Ele foi um menino como os outros.. foi à escola, jogou à bola, brincou tudo o que tinha que brincar.
Depois cresceu.
Estudou, divertiu-se e fez-se homem.
Um jovem homem como tantos outros. Trabalhava num escritório todos os dias da semana... e durante todo o dia. À noitinha regressava a casa... e preparava tudo para no dia seguinte regressar ao escritório.

Mas o AR-tur queria mais... queria ter tempo para ver, cheirar e olhar o mundo que o rodeava.

É a história do AR-tur que vos vou contar aqui, neste recanto da blogosfera.
Mas não só.
Por aqui aqui vão desfilar também os pensamentos deste vosso amigo...

Vê-se muita coisa do cimo da minha oliveira... e ouve-se muita coisa também.

Para já deixo aqui as minhas saudações felinas a todos quantos se deram ao trabalho de ler estas minhas primeiras linhas.

Espero que voltem em breve!